(Carlos Drummond de Andrade)
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?
Iniciou-se como cronista quando passou a colaborar para o Correio da Manhã (1954) e depois para o Jornal do Brasil (1969). Admirado irrestritamente, tanto pela obra quanto pela retidão de seu comportamento como escritor, morreu no Rio de Janeiro RJ, em 17 de agosto (1987), poucos dias após o desaparecimento de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade. Seus livros e poemas foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas.
Ouça o poema musica na voz de Paulo Diniz
Fontes:
Resumo biografico:
Imagem:
http://palavraria.files.wordpress.com/2011/03/carlos-drummond-de-andrade.jpg
2 comentários:
Gostei muito da sua construção
Música atual e sempre presente na atualidade do povo brasileiro. Belíssima escolha.
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